LABIRINTOS

Caminho dentro de um nevoeiro cerrado
À procura de um lugar
para viver deliberadamente
Chocando contra obstáculos
invisíveis por um lado
Não encontro a saída
Talvez fique cá eternamente

Caminho num labirinto sem saída
À procura de uma nova vida que escolhi
Vou deixar apodrecer tudo o que não é vida
Senão quando morrer
vou descobrir que não vivi

Neste caminhar sem rumo e sem destino
Procuro o lugar onde pertenço
Viver num mundo que não entende o que sinto
Onde nem sequer existem pessoas de senso

Se encontrar um motivo para sair deste labirinto
Foi porque encontrei um motivo para viver
Pois para viver esta vida que sinto
Não quero viver assim
é preferivel morrer

       Dealer
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VIDAS ESTRANHAS

Sinto uma dor que só passa
Com a certeza de quem me abraça
É assim que com saudade
Me lembra a tua amizade
Que outrora me fazia companhia
E enchia a minha vida de alegria

Pobre coração do poeta que vive
De melancolia solitária na sua jornada
Lembrando em versos solitários sobrevive
Sem a ternura da sua amada

Vendo nos teus olhos um oceano de ilusões
Lábios vermelhos rutilantes
Que inebriam os mais duros corações
Tornando-os fracos e pulsantes


Sou o eterno boémio de poemas nocturnos
O meu ninho era o teu recanto
Nos teus seios fortes e duros
Nos beijos dos teus lábios tão puros
Teus braços me aconchegavam com teu manto

Éramos uma só carne um só desejo
Na gruta inexplorada do teu corpo
Suores orgásticamente deliciosos
Levando contigo meus ensejos
Na certeza de que onde eu estiver
Se forem esses os teus desejos
Serei teu sempre que te aprouver

Não importa o tempo que vou esperar
Para te ter outra vez e te amar

                Dealer
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SERÁ POESIA?

A poesia não deve ser analisada
A poesia é escrita para ser lida
A poesia não deve ser criticada
A poesia é para ser lida e sentida

Despertando emoções
em quem não sente nada
Fazendo dela
Fonte inspiradora para a vida

Escrever poesia dá-nos alento
E a hipótese de manifestar a nossa dor
Pondo nela todo o nosso sentimento
Outras vezes um desgosto de amor
Mesmo que para os poetas seja um tormento
Fazendo da poesia uma escrita de dor
Deixando expresso em palavras apenas um lamento

Todos os poetas são solitários
Escrevendo o que pensam na sua solidão
Vivem vidas em autênticos calvários
Escrevendo o que sentem em seu coração
Mesmo escrevendo textos precários
Pois ser poeta, para mim é pura ilusão

Apenas rabisco uns textos umas odes ou uns poemas
Reflectindo o que penso no que escrevo
Os bons poetas quando escrevem os seus poemas
Fazem de nós simples sonhadores
Comparar-me com eles não me atrevo
Nem espero que o que escrevo
receba deles alguns louvores

           Dealer
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TEMOS TUDO DE NADA

Temos serras e planaltos
Caminhos e vias de asfaltos
Temos vales e planícies
E cidades cheias de inundíces

Temos rios praias e mar
E até gente para trabalhar
Temos barcos comboios e camiões
Muitas cooperativas e associações

Temos ministros e secretários de estado
E directores gerais por todo o lado
Temos engenheiros e doutores
E técnicos armados em produtores

Temos hotéis e restaurantes
Para turistas e emigrantes
Temos um país com qualificação
Se alguém precisa deles, nós não

Temos tractores reboques e grades
E um país de desigualdades
Temos um país à beira mar plantado
Onde não existe quase nada semeado

Somos um país que vive do subsídio
Que para os agricultores é um alívio
Temos tudo para produzir
E um povo com fome de consumir


Que desalento é este que nos consome? Se não fazemos nada para acabar com a fome?
                    Dealer
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DESALENTO

O que me atormenta a memória
Quando acaba a esperança de viver
Pensamos que temos tudo e não temos nada
De uma vida longa sem história
Além de sentir o coração já fraco bater
E perder tantos sonhos de uma vida planeada
Viver assim, só me faz entristecer
Vivi toda a minha vida a sonhar
Passei por ela sem nada conquistar
Hoje só tenho de memoria
Esse sentimento a me frustrar
E desses não reza a historia
De que adianta lutar
Se não existe nada para alcançar
Senão sentir a minha vida a se esvaziar

Estou aqui mas é como não estar
Não quero mais sonhar
Não quero mais amar
Esta vida não quero mais suportar
Estou cansado de lutar
Não consigo mais continuar

Se o meu coração parar de bater
Não me vou mais importar
Não faz mais sentido
Aqui permanecer
Com esta dor imensa
A tomar conta do meu ser
Neste meu desalento
Não encontro razão para viver
Só me traz o sofrer
De nada poder fazer
De nada ter

Aos poucos a minha vida quer-se ir
Mas não irei mais fugir

Faço hoje 57 anos de uma vida de completa solidão

      Dealer
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